Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos.
Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.
— Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.
(Machado de Assis: A Igreja do Diabo. In: Histórias sem Data - Obra Completa (II). Rio de Janeiro: José Aguilar, l959, p.367.)
09. Machado de Assis faz do conto A Igreja do Diabo um instrumento para análise e crítica, por certo corrosiva, das instituições que, de algum modo, buscam estabelecer normas de conduta moral para os seres humanos. Utiliza, para tanto, a ironia, a qual, no texto transcrito, se faz presente em vários momentos, atingindo vários alvos, dentre os quais se destaca a Igreja Católica Apostólica Romana. Esta instituição importante está sendo atingida, de modo exclusivo, pela ironia, em:
(A) Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja.
(B) Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos.
(C) Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.
*(D) Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico.
(E) Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.
10.
Há no segundo parágrafo orações que aludem, sem referência direta, portanto, a várias religiões. As religiões muçulmana e protestante estão aludidas em:
(A) Escritura contra escritura, breviário contra breviário.
(B) Terei a minha missa, com vinho e pão à farta ...
(C) O meu credo será o núcleo universal dos espíritos ...
(D) E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha será única.
*(E) ... não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero.
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